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Durante o ano de 2009, entrei nos ônibus da Região Metropolitana de Belém a fim de estabelecer diálogo com os personagens urbanos, focando meu olhar especialmente nas pessoas que entram no transporte coletivo distribuindo papéis que relatam histórias tristes e pedem ajuda em dinheiro aos passageiros. Relacionei esse procedimento urbano com a linguagem artística performance, por compreender que existe um potencial performático muito intenso nessas ações, ainda que executadas sem essa compreensão. Trabalhando elementos de memória visual e auditiva, chamo a atenção para essas narrativas que de tão difundidas no meio urbano já fazem parte do imaginário coletivo. Por esta razão, na última parte da pesquisa, entrei em diversos coletivos para registrar a performance executada por um ator (Bruno Oliveira) que na ocasião distribuía papéis que traziam a minha imagem e uma história criada por mim. Apresentávamos-nos através desse texto como pedintes, potencializando nossa ação inspirada nas tristes histórias de vida registradas em objetos e entrevistas realizados no decorrer do projeto.
Tinha para além do retorno imediato, o desejo de que essa história mergulhasse no imaginário da cidade e das pessoas. Meu desejo é de ir além, por isso afirmo que tudo ainda está em processo. Com um teor trágico e humano, cada um desses sujeitos pesquisados carrega em seu universo, peculiaridades e pesares que apesar do ponto em comum, são únicos e inteiramente carregados de subjetividades. Há entre essas histórias, inclusive, outros personagens fictícios criados dentro da pesquisa. Buscando trazer para o espaço expositivo esse universo subjetivo, levei para a exposição recortes de histórias coletadas em forma de depoimentos e os textos que os mesmos entregam nos ônibus, coletados durante a pesquisa e denominados: Objetos Performáticos. Termo que criei para definir um procedimento urbano intrinsecamente ligado a esses personagens da cidade, relatando parte de sua rotina, através de uma ação que beira ao ficcional, ao dramatúrgico, na mesma medida, afirmo a respeito dessas narrativas: O que não é real é verossímil, e isso basta.
(Texto da Exposição)
Tudo aquilo que é verossímil à própria vida está em trânsito. Este é o princípio da impermanência dos personagens urbanos que adentram nos ônibus coletivos da cidade de Belém. Com seus papéis que materializam Objetos Performáticos relatam tristes histórias e se apropriam desse espaço físico de transitoriedade, para dar vazão às recorrentes ações que manifestam no imaginário coletivo: fé, descrença e crueldade, tudo está dentro, em proporções diversas que definem parte daquilo que somos. No ambiente relacional do ônibus fica evidente a fragilidade de nossas próprias convicções e a possibilidade do exercício de fé no outro. Então, verdade e ficção se misturam, ocupam outros espaços, expandem-se. Acima de todo discurso niilista, esses personagens interferem no cotidiano urbano, criam paralelos com ações performáticas, dramatúrgicas, ficcionais. Vão além, conceituam Espaços de Performação diferentes do citado por Regina Melin, nos impondo uma realidade imperativa. Nas mãos do Performer, surge então outro Objeto Performático, subjetivado com meias verdades, objeto de memória visual e auditiva e para dialogar com essas histórias contadas nos sujos e recorrentes papéis, insere-se na cidade, no trânsito, na vida. Apropriações de uma cidade sonora, repleta de relatos expressionistas e potências performáticas que interrompem a rotina, numa ação que expande para práticas inerentes a cidade, constituindo a partir de recortes dessas histórias urbanas uma espécie de livro virtual com um repertório humano, que fora do espaço expositivo, migra no piscar de olhos, no estalar dos dedos. Tudo está em processo e os desdobramentos ainda estão por vir.
Carla Evanovitch
Artista Visual
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